Brasis. As traduções da cultura cotidiana do Brasil.

BRASIS. CULTURAS E COTIDIANOS DO BRASIL.

Expedição Raiz

 

(A autoria é do colaborador Gustavo Cerqueira).

 

240 dias, doze destinos. Na bagagem, apenas o indispensável para sobreviver a uma longa jornada, braços abertos para encarar o desconhecido e um sonho: percorrer as veias abertas de nosso país continental por seus interiores, em busca de destinos especiais, personagens autênticos e histórias inspiradoras. Essa é a Expedição Raiz, projeto de Otávio Lino e Marcinho Sanches, fotógrafos que se conheceram trabalhando em um mesmo evento e desde o primeiro encontro compartilharam uma vontade: desbravar estradas a procura de experiências e contar essas histórias para o resto do mundo. Sem que soubessem, nascia ali uma parceria permanente que em alguns anos levaria os dois em uma jornada pelos mais recônditos cantos do Brasil e deles mesmos.

 

(Da esquerda para a direita, Marcinho e Otávio preparam os últimos detalhes. Foto: Expedição Raiz.)

 

“Tudo começou em 2009 com a Expedição Latitude 56, quando fomos registrar cenas de turismo de aventura e turismo sustentável na Patagônia. Viajamos durante 32 dias com uma equipe de três fotógrafos e dois documentaristas”, conta Marcinho. A experiência rendeu três documentários, algumas matérias para uma revista de turismo e, o mais importante, sedimentou as bases para a próxima grande expedição. Dessa vez com destino ao Brasil Raiz, que ainda resiste à massificação cultural e paisagística dos grandes centros urbanos. É na fotografia e no audiovisual que ambos descobriram sua vocação para cumprir um dos principais objetivos da expedição: dar visibilidade à diversidade de contextos, paisagens e personagens que compõem a cultura regional brasileira.

 

Desde as primeiras conversas, seguiram-se quatro anos de planejamento e de preparação. Com o tempo, o projeto experimentou vários nomes. Começou como Programa de Índio, virou Terra Brasilis e por fim, em 2014, encontrou seu batismo derradeiro: Expedição Raiz. Com os equipamentos comprados, destinos definidos e já com o nome escolhido, chegava a hora de trazer à cena a terceira integrante do grupo e uma das mais importantes personagens da expedição: Ela, uma Caravan 1976 totalmente adaptada para servir como transporte dos equipamentos e moradia dos viajantes.  

 

Com recursos limitados e uma ansiedade formigando em colocar o pé na estrada, os dois se lançaram. O resultado não poderia ser diferente: uma corajosa jornada pelos rincões do país rumo ao inesperado, percorrendo paisagens intocadas, estradas de terra batida, cenários deslumbrantes, vilarejos bucólicos, moradas de pau a pique, praças públicas, feiras livres. Foram ao total 24.000 km em que os viajantes se entregaram a conhecer e a viver de perto os muitos brasis que desabrocham pelos interiores, nas soleiras das portas, nos sorrisos, nos encontros. Nessa travessia, a expedição cruzou o país de Norte a Sul e esteve em destinos tão diversos quanto o próprio Brasil – e a nossa imaginação. A Raiz adentrou as cavernas do Vale da Ribeira, registrou as cores e formas do cerrado na Chapada dos Veadeiros, percorreu as estradas de pura areia do Jalapão, atravessou de barco as veias da Amazônia e contemplou a natureza intocada do Pantanal, no estado do Mato Grosso. Os doze destinos foram selecionados com cuidado e inspiração, apresentando um rico mosaico de nossas multiculturas e belezas.

 

(Os doze destinos da Expedição: Petar - SP, Aparados da Serra - RS, Pantanal - MT, Chapada dos Veadeiros - GO, Jalapão - TO, Mamirauá - AM, Alter do Chão - PA, Lençóis Maranhenses - MA, Cariri - PB, Chapada Diamantina - BA, Itatiaia - MG, Saco do Mamanguá - RJ.)

(Os doze destinos da Expedição: Petar – SP, Aparados da Serra – RS, Pantanal – MT, Chapada dos Veadeiros – GO, Jalapão – TO, Mamirauá – AM, Alter – PA, Lençóis Maranhenses – MA, Cariri – PB, Chapada Diamantina – BA, Itatiaia – MG, Saco do Mamanguá – RJ.)

 

“Nossa intenção era mostrar esses brasis que são só em parte conhecidos, e com isso estimular um outro tipo de turismo que não é o convencional, mas sim um turismo sustentável, de experiência”, responde Marcinho ao ser perguntado sobre a importância do projeto. “As pessoas têm uma visão muito fragmentada do que é nosso Brasil e acho que nosso projeto como um todo tem relevância, porque pode mostrar para outras pessoas lados desconhecidos do país, assim como promover uma valorização da nossa diversidade”, complementa Otávio.   

 

(Nem toda trilha é de terra. Aqui, os dois atravessam as vias fluviais amazônicas pelo rio Tapajós. Foto: Expedição Raiz.)

(Nem toda trilha é de terra. Aqui, os dois atravessam as vias fluviais pelo rio Tapajós. Foto: Expedição Raiz.)

 

Entretanto, assim como o caminho de Drummond, aquele percorrido pelos dois viajantes também havia de se deparar com algumas pedras. A maior (e mais literal) delas apareceu em uma das rotas arenosas do Jalapão e foi suficiente para arrebentar a Caravan e forçar uma estadia prolongada em um pequeno quarto aos fundos de uma oficina mecânica. “No Jalapão a gente chegou a ficar 30 dias parados, com o carro desmontado e sem dinheiro. Ali pensei em voltar, mas Marcinho se manteve firme e lembrou da nossa vontade e de todos os anos de planejamento, o que deu força para seguir adiante”, confessa Otávio.   

 

O projeto foi quase integralmente financiado pelos realizadores, que partiram sem a certeza de chegar ao final. Na chegada ao Jalapão, a expedição ainda não tinha chegado à metade e os recursos, escassos desde o início, chegavam ao fim. Era hora de uma grande virada. Decididos a levar a viagem às últimas consequências, os poucos confortos que ainda tinham foram deixados para trás e os dois começaram a pedir ajuda. E o destino sorriu, generoso. Em doações realizadas por amigos em momentos de dificuldade ou por meio de inusitados presentes recebidos ao longo da viagem, como o cheque de um simpático frei em Poconé, Mato Grosso. Entrementes, a cada parada os viajantes investiam na venda de fotos em espaços públicos e pela internet.  

 

("Ela" no Cariri. Foto: Expedição Raiz.)

(“Ela” no Cariri. Foto: Expedição Raiz.)

 

Atualmente, após retornar a São Paulo, a dupla busca formas de comunicar o projeto para mais pessoas, captar recursos para a pós-produção dos materiais e conseguir compartilhar as muitas histórias e cenários registrados. Durante o percurso, foram horas de material documentado, centenas de fotos e um pulsante registro diário das aventuras, impressões e encontros do caminho. “São muitas as ideias e também as possibilidades. Nós queremos desenvolver dois livros, um apresentando um relato de experiência e outro que fosse uma fotorreportagem. Além disso, pensamos na criação de vários produtos audiovisuais, como documentários e séries digitais.”, explica Otávio. O endereço digital está sendo reformulado e deve voltar ao ar em breve. Enquanto isso, as fotografias da viagem estão disponíveis para a venda na página do Facebook e no Flickr da expedição, estratégia até então encontrada para viabilizar a realização dos muitos produtos sonhados.   

 

Foram muitos os aprendizados colhidos na estrada, aprendizados que os dois expedicionários começam aos poucos a traduzir em histórias. Das muitas andanças, se descortinam narrativas visuais que nos convidam a conhecer os muitos brasis, seus povos, paisagens e modos de ser que permanecem em grande medida desconhecidos para nós. O Brasil que não aparece com frequência na televisão e nas principais mídias e que não se avista fácil das janelas das cidades. Ao viajar para fora, os viajantes já desconfiavam que na realidade, ao conhecer nossas culturas o grande passo dado é para adentro. As muitas histórias da estrada podem estimular o autoconhecimento, ampliar nossa percepção de si e de nosso país e ainda incentivar outros a acreditar que é sim possível viver os sonhos e construir suas próprias estradas. Como a expedição nos ensina, para quem viaja, o horizonte é o limite.

 

(Estrada de terra, registrada do interior d’Ela. Foto: Expedição Raiz.)

(Estrada de terra, registrada do interior d’Ela. Foto: Expedição Raiz.)

 

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

_Data de início: 18/11/2015

_Data de encerramento: 30/11/2016

_Observações: As principais demandas do projeto hoje são: assessoria de imprensa, edição e finalização de vídeos e captação de recursos através da venda de fotos. Entre em contato:
Otávio Lino - 11 987753437
Márcio Sanches - 11 977732428
E-mail: expedicaoraiz@gmail.com
Facebook - www.facebook.com/expedicaoraiz
Flickr - www.flickr.com/expedicaoraiz
Site - www.expedicaoraiz.com.br

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