Brasis. As traduções da cultura cotidiana do Brasil.

BRASIS. CULTURAS E COTIDIANOS DO BRASIL.

Barracão D’Angola

 

(A autoria é do colaborador Gustavo Cerqueira).

 

Atabaques, berimbaus, caxixis. Ao toque dos instrumentos, as ladainhas começam a ecoar pelo barracão e fazem ressoar o lamento dos tempos de escravidão. Convite feito: todos vem se achegando a entrar no jogo rápido e rasteiro, característico da Capoeira Angola. E não pense que isso é coisa de gente antiga, não. Lá no barracão, os miúdos já entram na ginga desde os três anos. E o jogo atravessa gerações, já que a brincadeira não tem hora para acabar.

 

(Samba de Roda no DanceBatukeira. Foto: Warwick Manfrinato)

 

A iniciativa é coordenada por Mestre Cabello Caobijuba e Mestra Tisza, um paulistano e uma  carioca que se encontraram em terras estrangeiras com o sonho comum de voltar ao Brasil e criar um espaço que estimulasse a prática da capoeira e o conhecimento da cultura afro-brasileira. Tendo na bagagem os muitos aprendizados da convivência com Mestre Antigo e anos de trabalho com capoeira no exterior, faltava escolher novo porto em terras brasileiras. Encantados com as belezas baianas, acabaram atracando em Serra Grande, vila litorânea localizada entre Ilhéus e Itacaré. E por lá criaram, no ano de 2004, o Centro de Capoeira OuroVerde ou Barracão D’Angola.

 

No espaço atual são desenvolvidas atividades de Capoeira Angola, samba de roda, maculelê, dança afro e percussão. Alguns instrumentos como berimbaus e caxixis são confeccionados pelos Mestres e pelos próprios participantes das oficinas. Ao total, Mestre Cabello estima que cerca de 80 alunos participam regularmente das atividades, que acontecem de segunda a sábado. Além das atividades contínuas, o Barracão promove eventos nacionais e internacionais, como o DanceBatukeira, que acontece nos meses de janeiro e julho. Já em sua 26a edição, o próximo acontece entre 27 e 31 de julho e promete reunir batuqueiros, capoeiristas e sambadores de vários cantos para celebrar na ginga da capoeira nossa ancestralidade.  Os eventos promovidos ajudaram na consolidação do trabalho do Barracão D’Angola e expandiram o centro para outros destinos, que hoje tem sedes por outras cidades na Bahia, em Goiás e no exterior, em países como México e EUA.

 

(Oficina de capoeira. Foto: Warwick Manfrinato)

 

Uma das certezas que impulsionou todo o esforço realizado foi a necessidade de  estimular o autoconhecimento de brasileiros ao dar maior valor a nossas próprias expressões. “Em outros lugares, como EUA e Japão isso acontece. Por incrível que pareça existe mais preconceito no Brasil com a cultura negra do que em qualquer lugar do mundo”, desabafa Cabello. Preconceito, por sinal, é uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo projeto. Ainda existe forte resistência dentro da comunidade às expressões culturais e religiosas de matriz africana. A verdade é que pouco nos conhecemos. O massacrante processo histórico fez com que perdêssemos muito do contato com nossas culturas, nossa história e identidade. “Enquanto pessoas buscam autoconhecimento e desenvolvimento espiritual em outros lugares, a vivência da cultura brasileira é uma forma de vivermos nossa espiritualidade”, ensina Mestre Cabello.

 

Atualmente, o projeto não conta com nenhuma espécie de financiamento, público ou privado. As atividades são custeadas pelos participantes, pela própria equipe e por doações. Apesar das atividades serem pagas, o aspecto financeiro não é um impeditivo para a participação nas oficinas. “Sugerimos uma contribuição para as aulas, mas ela é sempre negociada e nos esforçamos para viabilizar que todos possam participar conosco”, defende. Essa é uma das premissas do Barracão, para garantir a inclusão e o acesso a todos os interessados.

 

E de mansinho, os reconhecimentos começam a vir. O Centro OuroVerde já recebeu prêmios da Fundação Palmares e do departamento de cultura do estado da Bahia, além do reconhecimento como Pontinho de Cultura. Com o tempo, a seriedade do trabalho e a permanência, aos poucos a comunidade começa a participar mais, romper com o preconceito e reconhecer o valor do trabalho. O Barracão D’Angola é um desses casos especiais, que mantém as tradições pulsantes e contribuem para fazer chegar a nós um tanto mais de dança. Mais de música, mais de jogo, mais de brincadeira. Mais de Brasis.

 

A editoria Rapadura sempre traz uma história brasileira inspiradora, com causas ou projetos em cultura que merecem nosso apoio. 

 

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

_Data de início: 15/05/2016

_Data de encerramento: 15/05/2017

_Observações: Divulgação de atividades, ajuda no transporte para crianças da zona rural, alimentação durante as atividades, ligação com outros centros culturais, pessoal para captação de recursos e comunicação.

Contato
http://barracaodangola.com/
https://www.facebook.com/BarracaoDAngola
Mestre Cabello: (73) 99981-0377
Mestra Tisza: (73) 99981-9003

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>