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Retrato Falado 05: João Servino

 

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Retrato Falado: instantâneo em forma de texto

 

Chega João Servino em Catuçaba, o povo já vai logo pedindo benzimento. “Não saio de lá sem benzer dois ou três”. Quando a pressa é grande, João anota o nome pra depois rezar em casa. Ou pede pra irem lá: casinha caiada no bairro do Chapéu, ao fim de uma subida em estrada de chão, detrás de jardim bonito e graúdo que parece querer esconder os muitos mistérios da fé. E quase toda semana tem gente ali, batendo palmas na porteira, querendo a cura de João, benzedor de boa fama e grande poder ─ um dos maiores, dizem, do distrito de Catuçaba, zona rural de São Luiz do Paraitinga. O dom é de família: João é neto de Maria Servina, benzedeira das mais respeitadas que já existiram na região. Tanto que quando morreu (dizem que aos 115 anos de idade), decretaram até feriado municipal. Mas, da avó, João nunca teve ensinamento. Só a lembrança. E a herança. E foi o que bastou para que o dom se revelasse, ainda que tardio. Isso não faz nem dez anos, quando uma mãe, do nada, chegou pedindo a bênção do filho, evocando a fama de Maria Servina. João nem sabia que sabia benzer. Mas veio o estalo: pegou a cruz numa mão, o rosário na outra, e a reza se fez. O que era dom virou profissão. Primeiro benzedeiro de criança, agora de quem chegar. E ai de quem chegar carregado de inhaca, que esses, quando entram na sala de reza, caem duros no chão. Só pra que João levante de volta, com o poder da oração.

 

 

João Servino, benzedeiro em Catuçaba, distrito de Catuçaba, São Luiz do Paraitinga. Julho de 2015.

 

 

(Foto por Xavier Bartaburu.)

 

 

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