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Encantados

Saci por Denis Diosanto

 

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Saci: Quando me perguntei o que era o Saci não teve como não colar os cacos de memórias da infância. Em 1984, comemorei meu aniversário de três anos com minha irmã de um ano. O tema da festa foi o Saci. O bolo e os enfeites eram de Saci e todos na festa ganharam gorros vermelhos ao invés de chapéus de papelão. Apaixonei-me pelo gorro vermelho e passei muito tempo usando em todos os lugares querendo ser um Saci, virar furacão e dar nó em rabo de cavalo. Nessa mesma época, vi num livro que para capturar um Saci era necessário uma garrafa e uma peneira, quando avistasse um redemoinho de vento era sinal que ali estava passando um Saci e era a única oportunidade de engarrafá-lo. Não ia ser tão difícil, afinal eu tinha peneiras da caixa de areia e poderia improvisar uma garrafa com um Yakult! Certo dia, num passeio no parque, uma série de redemoinhos de vento mexeu todas as folhas do chão, formando vários e vários círculos de vento. Nesse dia, joguei fora meu pacote de pipoca doce e rápido como um relâmpago encontrei uma peneira no chão, uma garrafinha de suco no lixo e corri para tentar pegar um dos Sacis que passavam. Esperei atentamente o próximo redemoinho passar e capturei um Saci sem maiores dificuldades! Pequeno, humilde mas era o que cabia na minha garrafa improvisada e pequena. Adultos têm garrafas maiores. Olhei por alguns instantes para o Saci ali, fumando seu cachimbo e ele bem calmamente me disse: “ei menino, tu tá doido? Você iria gostar de viver numa garrafa?”. “Claro que não!” _ eu pensei! Nem os líquidos aturam uma garrafa por muito tempo. O ar fica de boas lá, mas é rarefeito. Pedi desculpas, liberei o Saci e ele foi embora num redemoinho de vento. Antes de ir, agradeceu-me dando uma pedra comum. Não valia nada. Valia só a lembrança.

 

Percebi que, quando criança, não existiu pra mim diferença entre o real e o imaginado. O Saci era o Saci, real como todas as outras coisas, mesmo que nunca visto. Era o imaginário provocando a realidade, dizendo que ela é tão mágica quanto cada um pode crer. E eu quase peguei um saci um dia…

 

Saci por Denis Diosanto: Artista do interior de São Paulo, desde muito novo gosta de desenhar e escrever. Trabalhou em gráficas na adolescência e por 11 anos foi redator e designer em diversas empresas e clientes. Em 2011 decidiu dedicar exclusivamente seu trabalho de comunicador para empreendedores, grupos de teatro e circo, bandas, artistas e ativistas.

 

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