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Júlio Abe e seu acervo fotográfico

 

Um dos maiores colecionadores particulares da iconografia paulistana quer deixar o seu acervo disponível para consultas em ambiente digital. Júlio Abe está aberto a receber estudiosos, fotógrafos, arquitetos da informação e programadores como voluntários em uma casa que guarda suas fotografias em Paranapiacaba, interior de São Paulo. A sua vontade é que juntos, ele e colaboradores, possam construir esse novo ambiente para pesquisa de temas tão contemporâneos como a formação de territórios e a relação das pessoas com a cidade.

 

 

São mais de 40 mil imagens em caixas com etiquetas que convidam: “Samba de Roda Itu”, “Filmes Super 8″, “Bixiga”, “Festa do Divino São Luiz do Parait.”. Dentro delas, “material de exposições e fotos de projetos, alguns documentos mas são principalmente fotografias”, conta Júlio que está organizando todo esse material porque decidiu doá-lo para o Museu Paulista já que “ele se interessa por essas histórias da cidade”. A vila de Paranapiacaba também irá publicar, no seu endereço virtual, alguns dos materiais de pesquisas do museólogo na região.

 

Sempre trabalhando com equipes multidisciplinares, mas com linha interdisciplinar (todos interessados no mesmo objeto de estudo), o trabalho museográfico de Júlio é sobre relações. Sobre encontros: o concreto e o abstrato, o território e as pessoas, o social e o ambiental. Nessa direção, ele entende que a essência do Patrimônio Imaterial (o museólogo foi um dos primeiros no Brasil a trabalhar com essa temática) está no processo e nas pessoas, “ele é mutável por natureza e o principal valor desse trabalho é registrar o saber de um povo”.

 

Conhecimento é uma de suas palavras preferidas. Júlio Abe escuta com atenção as histórias narradas por seus parceiros de projetos e também pelas pessoas que ele cumprimenta nas ruas. A informação oral, para ele, é tão importante quanto outros registros de uma cultura.

 

O colecionador

 

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Artista-arquiteto-fotógrafo-urbanista-muséologo, Júlio Abe gosta mesmo é de percorrer caminhos e registrar suas histórias. Com sorriso no rosto, ele conta que sempre foi bem recebido, “como brasileiro, apesar dos olhos pequenos”, em todo o país. Júlio nasceu em 15 de janeiro de 1941 no interior do estado de São Paulo e passou seus primeiros anos lendo jornais e livros de bibliotecas em cidades pequenas. Era assim que ele se informava sobre as produções culturais das grandes cidades e foi por isso que, quando chegou à capital, já sabia bastante sobre as programações dos museus e de outros equipamentos da cidade de São Paulo.

 

Anos depois, lá estava ele fazendo os primeiros Museus de Rua do Brasil: exposições de fotos posicionadas nos trajetos das pessoas para que elas pudessem se relacionar com as imagens em contextos que também faziam parte da museografia, já que traziam informações sobre o percurso arquitetônico, social e ambiental do que estava fotografado. Esse formato ajudou a contar histórias de bairros e seus moradores e a revelar a importância da observação do cotidiano e dos costumes de uma sociedade.

 

A História do Bixiga contada por seus Moradores foi um desses trabalhos de museologia social. O foco estava em compreender a função da arquitetura do bairro para as pessoas que nele viviam. “Os calabrases que formaram o bairro eram pequenos empreendedores que colocaram a mão na massa para construir o Bixiga”, ele conta, e é por isso que o território formou-se com várias sapatarias, padarias, cantinas; uma paisagem que era considerada pouco erudita para os valores da época. Para transmitir os aprendizados de pesquisa, foi montado um Museu Vivo no próprio bairro: os moradores passavam pelas ruas e conheciam a história das famílias e ofícios vizinhos, “eles se reconheciam e começaram a trocar informações entre si”, lembra Júlio.

 

“Empatia”, ele nos disse enquanto conduzia seu carro de Paranapiacaba para São Paulo. A sensação de se encontrar no outro é seu principal guia nessa trajetória de construir relações, conhecer caminhos e registrar momentos que merecem ser conhecidos.

 

(Fotos por Mayra Fonseca em Paranapiacaba, São Paulo. Peça autorização para utilizá-las).

 

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

_Data de início: 24/03/2015

_Data de encerramento: 15/04/2015

_Observações: Júlio Abe, um dos primeiros museólogos do Brasil a trabalhar com Patrimônio Imaterial Brasileiro, pretende organizar seu acervo fotográfico, com mais de 40 mil registros, e disponibilizá-lo para consultas. Se você faz boas fotografias, desenha plataformas digitais, escreve bem, está interessado em urbanismo ou culturas ameríndias e pode estar por algumas horas na cidade de Paranapiacaba (São Paulo), certamente você ficará feliz em ajudá-lo. Escreva para o Brasis falando sobre você, sua trajetória e disponibilidade de tempo para colaboração. Para se voluntariar para os meses de maio e junho de 2015, entre em contato até 15/04/15.

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