Brasis. As traduções da cultura cotidiana do Brasil.

BRASIS. CULTURAS E COTIDIANOS DO BRASIL.

Fia

 

 

Cearenses, Celina Hissa e Lívia Salomoni “carregam o olhar de quem tem um sol a pino e a cultura de uma terra que diariamente se reinventa”. Ouvi, com sotaque que abraça, elas contarem que se conheceram há muitos anos na faculdade em Fortaleza e que levam consigo também essa amizade: ainda que andem por lugares diferentes, elas estão sempre caminhando juntas.

 

O artesanato é outro ponto de encontro entre a designer Celina e a comunicóloga Lívia. No Morro Santa Terezinha, Fortaleza, a mãe de Lívia, assistente social, começou a conviver com um grupo de artesãs que hoje colabora com a marca Catarina Mina, de Celina. Já dialogaram e pesquisaram com mulheres de fazeres manuais no Piauí e em outros Brasis e recentemente elas se reencontraram de novo num lugar de seu Ceará, no lugar de Fia.

 

Rapadura_Fia_Conteúdo_04

 

A cada contato com artesãs brasileiras, uma realidade repetida: a dificuldade de comercializar e precificar os artefatos esmeramente criados e produzidos, mantidos ao longo de gerações e que levam o sábio tempo da cultura feminina do interior pra ser confeccionado. Cada objeto traz consigo um trajeto de mulheres de uma mesma família e a rotina daquela que faz a peça e a comida e a roça e a casa e a criança e a reza. Cada produto do artesanato brasileiro viaja muito de sua casa de origem aos grandes centros e nem sempre aquelas mãos que o produziram são lembradas e valorizadas.

 

Vivendo essas questões dos que se aproximam aos Brasis e seus artistas do cotidiano, Celina e Lívia pensaram em uma ação que pudesse viabilizar o trabalho de artesãs de seu Norte, o do Ceará, a partir de um financiamento coletivo de produtos. Fia nasce, portanto, de uma vontade de repensar laços entre mercados, artesãos, designers e consumidores.

 

Rapadura_Fia_Conteúdo_06

 

Foi assim: com a Prefeitura e o Instituto de Assessoria para o Desenvolvimento Humano (IADH), Celina começou a ministrar oficinas para as artesãs em Sobral e, durante elas, foi criada uma coleção. Depois disso, o desafio: como fazer com que aquelas peças chegassem ao consumidor final? Celina conversou com Lívia e juntas elas entenderam que o financiamento coletivo poderia ser uma ótima resposta.

 

Atingindo a meta da nossa campanha no Catarse, a gente entrega um produto bonito a um preço justo pra o consumidor e apoiador, e garante às artesãs recursos financeiros que possibilitam continuidade ao longo do próximo ano, permitindo a estruturação de um fundo de caixa, a compra de novos materiais e a formação de um estoque com produtos já testados e avaliados pelo
próprio consumidor”, comentam.

 

[FIA] - Processo_foto_haroldo_saboia-1055

 

Com essa motivação, elas conseguiram montar um verdadeiro mutirão para colocar a ideia de pé. Além das duas, fazem o Fia o próprio IADH, a Prefeitura Municipal de Sobral, a Casa Gente Solidária, a Casa da Economia Solidária, o fotógrafo Haroldo Saboia, a roteirista Lucia Evangelista, Astronauta Marinho, o assessor de imprensa Paulo Junior e um grupo de embaixadores que ajudam a convidar mais pessoas para a ação.

 

Rapadura_Fia_Conteúdo_03

 

E principalmente fiam o Fia mulheres (e alguns homens) de quatro comunidades cearenses que são guardiãs dos saberes de suas família e também provedoras da casa. Na Comunidade Trapiá: Elizangela Maria, Nonata da Silva (Silvinha), Maria Lucilda da Silva, Benedita Aldair, Maria Elena, Maria Mateus, Maria Lucimar, Lucia dos Reis, Maria de Fátima Parente, Lourença Rosa, Raimunda Nilça, Maria do Socorro Cândida, Nalda Oliveira, Leiliane dos Santos, Liduina Sampaio, Rita da Silva. Na Comunidade do Sumaré, Dalva Souza Paula, Maria de Fátima, Raimunda Faustino, Maria do Socorro Duarte, Maria Antonia Sousa. Na Comunidade Vassouras: Selma Gomes, Josenira Barbosa, Maria Claudilene, Silvelena Mendes, Maria do Socorro de Paiva, José Rodrigues Filho, José Edvar Filho, Rosa Eliene Selma, Francisco Moacir Pereira, Ana Carolina Gomes. Comunidade Aracatiaçu: Inocência Mendes, Antônia Siqueira, Ana Lúcia Lima, Antônia Edilene, Joana Darc, Conceição de Lira. Darlane Lima.

 

Rapadura_Fia_Conteúdo_01
A vontade dessas mãos que costuram tramas e histórias? Que seus feitos sejam também conhecidos para além de suas localidades, enfeitando casas de todo o Brasil. O sucesso de Fia significa um aporte financeiro para a confecção de outras peças e consequentemente o incentivo à manutenção de um fazer. Para quem fia, isso ajuda a aumentar a certeza de que o artesanato é um saber valorizado pelo Brasil e que a sua reinvenção e manutenção é algo que será feito por várias mãos.

 

(Fotos por Haroldo Saboia.)

 

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

_Data de início: 21/10/2015

_Data de encerramento: 13/11/2015

_Observações: É possível contribuir na divulgação, apoio através da compra dos kits, espalhando a ideia e chegando perto! Mais informações no https://www.catarse.me/pt/fiaoficina.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>