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BRASIS. CULTURAS E COTIDIANOS DO BRASIL.

Campanha do Carimbó

 

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A Campanha do Carimbó é um movimento auto-organizado por grupos de carimbó, mestres carimbozeiros e entidades culturais de todo o estado do Pará, unidos desde 2006. Mais do que buscar o registro do Carimbó como Patrimônio Cultural e Imaterial Brasileiro junto ao IPHAN, conquista alcançada no ano passado, a Campanha organiza e formula ações de salvaguarda que possam perpetuar o ritmo entre as próximas gerações.

 

Depois de diversos encontros regionais, foi realizado, nos dias 06 e 07 de junho, o I Congresso do Carimbó, em Ananindeua, região Metropolitana de Belém. O evento definiu as pautas prioritárias a serem transformadas em projetos e, Juliana Araújo, estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Pará e editora-chefe da Revista Na Cuia, participou do evento como correspondente especial do Brasis e contou pra gente o que foi discutido por lá:

 

Isaac Loureiro, que parece – desde o meu primeiro contato com a organização do congresso – o movimento personificado, falou sobre a necessidade de cobrar ações do IPHAN de forma mais prática, com um planejamento quase pronto. Pra ele “não é falta de boa vontade” dos funcionários, mas falta de infraestrutura do próprio órgão. “São só dois técnicos pro patrimônio imaterial. Eles têm que cobrir por volta de uns dez patrimônios, e ainda têm alguns com processos pendentes”. O técnico presente, Cyro Lins, fez parte da equipe que visitou as comunidades nos Encontros que precederam o Congresso, onde ele e Isaac explicaram a importância das Ações de Salvaguarda e discutiram a oficialização do movimento auto-organizado, para defender os interesses dos grupos de carimbó.

 

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Assim, o movimento se formalizou, esperando não encontrar mais barreiras na parte burocrática. De acordo com Isaac, os passos consistem na hierarquização das demandas (já pré-estabelecidas nos Encontros municipais), no debate acerca das necessidades de cada comunidade e na eleição de uma comissão para executar a última etapa: a construção dos projetos. A importância do envolvimento das comunidades na produção destas demandas foi mencionada por Tainá Marajoara, ativista da cultura alimentar, ao falar sobre políticas públicas: “As políticas públicas pra cultura precisam compreender que quando a gente fala da cultura, a gente tá falando da nossa vida, de quem nós somos, de onde nós viemos”.

 

“Era pras nossas letras fazerem parte do currículo escolar, porque elas falam da nossa realidade”, propôs Mestre Claudete, durante os círculos de conversa. Uma das principais dificuldades para a manutenção dos grupos é a falta de interesse dos jovens, o que dificulta uma possível reciclagem. A proposta de Claudete não serviria somente para essa manutenção, mas também para a valorização dos saberes tradicionais. Outra demanda que também foi muito discutida durante o evento é a dificuldade de locomoção dos grupos, o que prejudica a realização de apresentações em outras localidades.

 

“Teve uma redução no número de delegados de cada grupo também, porque mudamos de espaço. A previsão era de 250 participantes”, disse Isaac, que continuou, apontando dificuldades encontradas na própria infraestrutura das cidades e do sistema de transporte: “Tem lugares que a viagem é longa, como Santa Cruz do Arari, que é de 10 horas. Tem delegado que não veio porque a ponte da comunidade [do Cacau, próximo a Colares] desmoronou”.

 

As práticas culturais perpassam histórias pessoais dos carimbozeiros, fazem parte da relação deles com a própria comunidade, e deles entre si. E como cada um tem uma história, cada grupo apresenta o ritmo de uma forma. Roberta Brandão, assessora de comunicação do Congresso explica a história do grupo Sereias do Mar, de Marapanin: “Elas se cansaram de pedir para os homens fazerem apresentações de carimbó em festas da comunidade e não serem ouvidas. São autodidatas e cantam o poder da mulher paraense”.

 

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Durante o debate das propostas, Isaac e Cyro circulavam entre quatro rodas formadas por delegados, que respondiam por uma ou duas regiões representadas no Congresso. Os participantes analisavam documentos redigidos durantes os Encontros e apontavam qual das pautas era mais urgente. Nenhuma delas seria descartada. Os delegados anotam as possíveis resoluções para que em outro momento elas sejam discutidas. Mas os projetos das Ações de Salvaguarda não são produzidos no Congresso. Com a Comissão formada, todas as pautas priorizadas vão ser estruturadas para funcionar de forma prática, pensadas a fundo, com apoio do IPHAN, em reuniões periódicas até o fechamento do orçamento para 2016.

 

A capacitação dos carimbozeiros acerca de direitos autorais e leis de incentivo é outro foco. Com a sustentação dos grupos, o ritmo pode ser levado a diante por gerações futuras e seus direitos de propriedade intelectual podem ser mantidos. Além de toda a articulação do patrimônio imaterial, Rejane Nóbrega, assessora da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural, do Ministério da Cultura, apresentou um panorama de políticas culturais, explicando desde os pontos de cultura até editais que os grupos podem submeter projetos. O caminho não é curto, e citando Isaac, na mesa de abertura do Congresso: “Tem muita gente esperando o resultado disso aqui. Por eles que não vieram e por a gente que tá aqui, vamos trabalhar”.

 

(O conteúdo desta Rapadura foi feito pela Juliana Araújo que foi convidada pelo Brasis a participar do evento. A edição da matéria foi feita pela mutirante Amanda Pinho. A Edição #6 da revista Na Cuia foi lançada no último dia 04/07/2015 e você pode acessá-la por aqui. Para conhecer mais sobre a revista, visite a página.)

 

(Imagens de divulgação.)

 

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

_Data de início: 06/06/2015

_Data de encerramento: 31/12/2015

_Observações: A divulgação e o reconhecimento dos Mestres são as melhores formas de colaborar. Também vale à pena acompanhar as ações do movimento e se informar sobre os próximos encontros que poderão precisar de patrocínio com relação à estrutura, transporte e hospedagem dos mestres. Para mais informações, entre em contato com Isaac Loureiro pelo email carimbopatrimonioculturalbr@gmail.com ou pelos telefones (91) 98191-6690 e 99993-1613.

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