Agência Turismo Comunitário do Cariri

(Júnior dos Santos e sua mãe. Pousada em sua casa, onde recebem turistas em estadia no Cariri cearense.)

“Se você quer ajudar um Mestre, valorize seu ofício, compre seus artefatos e, principalmente, escute as suas histórias”. Era caminho de Nova Olinda a Santana do Cariri, Júnior dirigia e falava sobre esse olhar generoso e propositivo que devemos ter no encontro com outro brasileiro. Horas depois recebíamos a bênção de Dona Maria Piauí, uma das principais rezadeiras de todo o Nordeste, em sua casa tão branca que brilhava de longe, da primeira curva daquela estrada sertaneja.

Júnior nasceu na cidade do Crato, interior do Ceará, mas cresceu na vizinha Nova Olinda. Ele, que “só deixa o seu Cariri no último pau-de-arara”, leva dali as imagens (lugares, arquitetura, cotidiano) e as muitas histórias contadas ao redor de fogueiras. Também tem sempre consigo as tantas brincadeiras de uma infância encantada: ser caririense é crescer ouvindo som de Luiz Gonzaga, casos de Lampião e ladainhas de Padre Cícero!

Para ele, o “Oásis do Sertão” – apelido carinhoso dado ao Cariri – é uma das regiões mais ricas do Brasil quando o assunto é cultura. A persistência é uma das características marcantes desse povo que lida com grandes períodos de seca, mas que sabe que reclamar é menos propositivo que agradecer. Desde os Kariri-Kariú, etnia que habitava a região e que deu nome ao território, resistência e cuidado são as palavras de ordem do cotidiano caririense.

(Banda Cabaçal dos irmãos Aniceto, Cariri – CE. Foto por Allan Bastos.)

E é por resistir e cuidar que o Cariri é hoje um pólo receptivo de turismo cultural na América Latina. Visitar os Mestres do Cariri é uma experiência extremamente válida para todos os interessados em cultura, linguagens, artes e objetos. Reconhecidos como patrimônio vivo do Brasil, seus ofícios, saberes, fazeres, crenças e narrativas encantam e inspiram todos os que conhecem a região. Um exemplo citado por Júnior é a Banda Cabaçal dos irmãos Aniceto: “eles chegam aos 200 anos de história repassando conhecimento de pais para filhos”.

A Agência de Turismo Comunitário do Cariri

“A Agência Turismo Comunitário nasceu da necessidade de operacionalizar o receptivo turístico na Fundação Casa Grande, localizada na cidade de Nova Olinda, interior do Ceará. Tem como princípio garantir a geração de renda familiar para as famílias parceiras por meio de  atitudes éticas e solidárias, criando um ambiente de integração entre a população local e os visitantes. Tudo isso dentro de um contexto de turismo de experiência que preza pela conservação ambiental, pela valorização da produção da cultura e pela identidade local” _ conta Júnior dos Santos.

O funcionamento é simples: o turista entra em contato com a agência explicando as suas vontades e necessidades durante a estadia. E, como resposta, recebe uma proposta completa de experiência que envolve dormir em pousadas nas casas de moradores e mestres do Cariri. Nós, que já vivemos a experiência, creditamos que o cuidado e o carinho são notórios em todos os momentos de contato.

(Pousadas em casas de moradores e Mestres do Cariri.)

Segundo Júnior, o principal objetivo da agência é promover um turismo que consiste em “fazer amigos pelo mundo e para o mundo”, criando vivências entre o homem e o ambiente de forma participativa e colaborativa, beneficiando famílias e proporcionando experiências transformadoras para os visitantes. Quem visita o Cariri através da Agência de Turismo Comunitário experimenta uma imersão social na vida do sertanejo: “reparte morada, compartilha alimento e histórias, constrói amizades e, dessa maneira, ajuda a deixar o mundo mais generoso”.

Além disso, a Agência oferece passeios programados com Mestres dos saberes populares no município de Nova Olinda e na região do Cariri.  À frente da Agência de Turismo Comunirário, Júnior é o responsável pelo planejamento e operações da empres. Mas todo o trabalho é feito em rede com empreendedores sociais locais que são responsáveis pela produção audiovisual, transporte, gastronomia, hospedagem e produção cultural que o trabalho da agência envolve.

E por que turismo comunitário? “Turismo comunitário é uma modalidade de turismo que é desenvolvida pelos próprios moradores de um lugar, passando a articular atividades, operações e empreendimentos em uma comunidade que recebe visitantes de vários níveis. Os produtos e serviços ofertados por uma comunidade local são denominados “Turismo de Base Comunitária” (TBC), caracterizando-se como um segmento que se apropria de outros segmento, como o turismo étnico-indígena ou do ecoturismo. O TBC é uma alternativa ao modelo de turismo convencional que atende às necessidades de conservação dos modos de vida tradicionais e da biodiversidade de pequenas comunidades, além de estimular o desenvolvimento econômico local. O desenvolvimento do turismo de forma sustentável é uma das principais marcas do turismo comunitário, além de ser uma modalidade que surge em resposta às mudanças do perfil do turista contemporâneo, que busca, além do lazer, agregar conhecimentos por meio de novas experiências com valores culturais e naturais oriundos de comunidades que preservam a sua originalidade” _ responde Júnior.

Criar a Agência Turismo comunitário, é para ele manter um estilo de vida e um modo de pensar e agir em prol de sua comunidade. Seus próximos passos são desenhar atividades de atuação que, por meio da cultura e do turismo, favoreçam o densenvolvimento social de seus vizinhos.