Brasis. As traduções da cultura cotidiana do Brasil.

BRASIS. CULTURAS E COTIDIANOS DO BRASIL.

Festa de Santa Bárbara/Yansã

 

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(Ilustração de TARCIOV)

 

Por quem acredita:

 

“Santa Bárbara, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência dos furacões, fazei que os raios não me atinjam, os trovões não me assustem e o troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura. Ficai sempre ao meu lado para que possa enfrentar de fronte erguida e rosto sereno todas as tempestades e batalhas de minha vida, para que, vencedor de todas as lutas, com a consciência do dever cumprido, possa agradecer a vós, minha protetora, e render graças a Deus, criador do céu, da terra e da natureza: este Deus que tem poder de dominar o furor das tempestades e abrandar a crueldade das guerras. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.”

 

“Ọya kooro nílé ó geere-geere

(Oyá tiniu na casa incandescendo brilhantemente)

Ọya kooro nlá ó gẹ àrá gẹ àrá

(Oyá tiniu com grande barulho afastando os raios)

Obírin șápa kooro nílé geere-geere

(Mulher arrasadora que ressoou na casa sensualmente e inteligentemente)

Ọya kíì mọ rẹ lọ

(A Oyá cumprimentamos para conhecê-la mais).”

 

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Todo dia 4 de dezembro, às 5 horas da manhã, quem mora próximo ao Centro Histórico de Salvador já pode ouvir a alvorada dos fogos que desperta a cidade para um grande dia. As Rainhas dos Raios acordam a cidade com o som semelhante as suas trovoadas e as pessoas se vestem de vermelho e branco para homenageá-las. “Salve, Santa Bárbara!”, “Eparrei, Yansã!”, saúdam os seus fiéis. Olhando do alto, vemos um tapete alvi-rubro. Olhando nos olhos de quem está na procissão, vemos fé, lágrimas e esperança. Olhando para o céu, sentimos a força das tempestades que nos arrepiam dos pés a cabeça e nos mostram a magia que é a energia das festas populares da Bahia.

 

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Por volta de 1641, trabalhadores e frequentadores do Mercado de Santa Bárbara, situado na Baixa dos Sapateiros, decidiram homenagear a santa que dá nome ao local. Anos se passaram e essa manifestação de fé se transformou em uma tradição que todos os anos arrasta muitos fiéis que não só participam da missa, como também percorrem o Centro Histórico em procissão até ao Quartel do Corpo dos Bombeiros (a santa é padroeira da corporação) e finalizam as suas reverências oferecendo carurus como forma de retribuição pelas graças alcançadas.

 

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Porém, a festa não é só católica! Como muitas festas na Bahia, uma das marcas é o sincretismo religioso (forma pela qual os adeptos das religiões de matriz africana, durante o período de perseguição religiosa no passado, encontraram para manter o culto aos seus ancestrais relacionando as divindades africanas aos santos católicos que tinham características parecidas com aos dos seus deuses). No Candomblé, Santa Bárbara foi sincretizada com Yansã (também conhecida como Oyá), que é uma divindade guerreira, considerada como senhora dos raios, ventos e tempestades (características semelhantes às da santa católica).

 

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Na minha visão, cada pessoa que está na festa das Rainhas tem um pouco das duas entidades. Principalmente as mulheres que vemos guerrear a vera pela vitória na vida e se apegam tanto em suas preces que parecem carregar em seus peitos as mesmas personalidades das duas em seus atos. Essa busca pela conquista nas batalhas pode ter sido a herança deixada por Santa Bárbara e Oyá. E é por isso que é bonito de ver durante a festa as duas divindades, de religiões diferentes, serem louvadas em conjunto durante uma missa que acontece no Pelourinho, onde escutamos rezas católicas e orikis (saudações em yorubá) homenageando as duas guerreiras da Bahia: a Santa Bárbara e a minha mãe Yansã. Viva Santa Bárbara! Eparrei, Yansã!_Amanda Oliveira, Brasis.

 

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(Imagens de Amanda Oliveira/Brasis)

 

 

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

_Data de início: 04/12/2015

_Data de encerramento: 04/12/2015

_Observações: a festa acontecerá no Centro Histórico de Salvador (Baixa dos Sapateiros - Pelourinho) e é gratuita.

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