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Pelas Mãos de Alagoas 05: Ilha do Ferro 1

 

(As criaturas de Petrônio.)

(As criaturas de Petrônio.)

 

Pelas mãos de Alagoas: um inventário de lugares, ofícios e pessoas

 

(Aportamos no Sertão. Voltando os olhos para o mapa de Alagoas, atravessamos o estado em direção ao seu lado esquerdo e estamos afastados por cerca de 300 km do mar do Atlântico, de Maceió, o ponto de partida. O destino final dessa série de narrativas sobre o artesanato alagoano é um povoado ribeirinho banhado pelas águas do Rio São Francisco: a Ilha do Ferro. Pertencente ao município de Pão de Açúcar, esse pedaço de terra é encantado e sua própria toponímia dá margem para livres associações entre palavra e lugar. Para começo de história o povoado não é propriamente uma ilha, dá para chegar tanto pela água quanto pela terra, mas o lugar é tão isolado, pacato e pequeno que parece mesmo uma ilha. Ah, vale iniciar essa história antecipando ainda que a Ilha do Ferro é povoada por contos do Sertão, história de Cangaço, seres fantásticos, fragmentos arqueológicos e por muita arte que ressoa em todos os cantos do lugarejo. O imaginário coletivo da ilha é fértil e complexo e essa complexidade se expressa em sua arte. Mesmo assim, me arrisco na contação dessa história, mas logo adianto, é preciso ir até lá para de fato entender melhor sobre o que está sendo narrado).

 

Fantástico, imaginário e onírico. Esse é o universo de palavras que não desgruda da cabeça daquele que se aventura pela Ilha do Ferro. Para essa viajante que vos fala, o povoado é uma relíquia e adentrá-lo é uma experiência estética. O percurso de chegada já é por si só uma espécie de atravessamento, há um trajeto que revela pequenos encantamentos, momentos de deleite. Os dois percursos se complementam, anotem a dica: vale à pena se aventurar tanto por terra quanto pela água.

 

De barco, a partir da orla de Pão de Açúcar, é quase uma hora de um deslizar manso por caminhos líquidos. É gostoso navegar sob o sol suave da manhã, a paisagem vai se movimentando lentamente, tudo parece verde e puro. Outra velocidade é imposta aos seres urbanos e gradativamente, à medida em que uma brisa leve entra em contato com o nosso corpo e nos preenche de ar puro, uma sensação de estar esvaziando a mente se estabelece. Esse passeio é calmaria, meditação. De dentro do barco contempla-se cenas corriqueiras de um povo ribeirinho e sertanejo que faz seus rituais cotidianos nas margens dos rios e nos reconecta com nosso passado mais distante, ancestral, onde possuíamos raízes mais fundo na terra. É indiscutível toda a poética que existe em chegar em um lugar através da água, na Ilha do Ferro a cidadela dá as caras para o São Francisco, o rio é a sua porta de entrada.  

 

Contudo, chegar pela estrada vicinal também revela muitas descobertas. O caminho é abreviado, não há a calmaria da água, são mais ou menos 18 km de estradinha dura, de terra batida e ardida por onde passam carros de bois e motocicletas, insetos, corujas e toda a exuberância da flora da Caatinga, com suas árvores e arbustos de troncos finos e retorcidos e de folhas pequenas, uma imensidão de espécies de cactos, secos e espinhento e lá no fundo o grande azul do São Francisco. É impactante ver esse contraste, o sertão banhado pelo rio, um lugar que é ao mesmo tempo seco e líquido. O misticismo que há na Ilha do Ferro começa pelo nome do rio que a benze.

 

Mas é a toponímia do povoado a chave para descobrir os segredos dessa ilha que não é uma ilha. Para experienciar o lugar é preciso fazer contínuos exercícios criativos, de abstrair e imaginar coisas, só assim é possível iniciar o processo de deslocamento para o plano imaginário para daí conseguir sentir a arte feita no povoado. Sobre a origem do seu nome, dizem os moradores, há duas histórias, uma delas está associada ao sobrenome dos primeiros moradores da ilha, a Família Sandes Ferro, e a outra faz alusão ao desenho da ilha que existe em frente ao povoado (e que é um cemitério de crianças), a Ilha dos Anjos, semelhante a um ferro de passar roupa.

 

O povoado é pequeno, apenas cerca de 200 famílias vivem na Ilha do Ferro. Há uma rua principal, que se liga à estrada vicinal, e mais duas ruas que se ramificam em algumas ruelas de chão batido. As casas também são pequenas, além de singelas e alegres. São construções vernaculares e quase todas possuem detalhes que imprimem a personalidade dos moradores, seja através das cores ou de detalhes decorativos em suas fachadas; algumas delas trazem, inclusive, traços de inspiração modernista. Há também casas de taipa que resistem ao tempo ao lado de outras construções que já se transformaram em ruína. A residência mais antiga, atribuída à Família Sandes Ferro, data de 1600. Dizem que por lá passaram, além dos portugueses, índios e negros, holandeses, espanhóis e galegos, e, por fim e mais recentemente, os cangaceiros de Lampião.

 

A vida das pessoas do lugar gira em torno da pesca e do artesanato cuja principal inspiração é a natureza ao redor. A artesania se espalha por todo o povoado e todos parecem viver do que suas mãos tecem e esculpem. Sempre há mulheres bordando na porta das casas e homens talhando pedaços de madeira sob a sombra das árvores. O bordado que se faz por lá, que se inspira e recebe o mesmo nome de uma pequena flor chamada Boa-Noite, é a projeção do universo de mulheres ribeirinhas. Já a madeira, a matéria-prima utilizada para criação de esculturas e móveis muito peculiares, reflete o universo masculino da Ilha do Ferro. Resolvemos começar a narrativa sobre o artesanato feito na Ilha do Ferro pelos homens escultores e finalizaremos, na próxima publicação de Pelas Mãos de Alagoas, narrando o trabalho das bordadeiras, o universo feminino virá como desfeche desse conjunto de narrativas, que foi iniciado pela história de uma artesã, Dona Irinéia do Povoado de Muquém, em Palmeira dos Índios. Iniciamos falando sobre o barro, estamos passando pela madeira e encerraremos pelos fios e tecidos.  

 

Craibeira (árvore símbolo de Alagoas), Imburana-de-Cheiro, Imburana-de-Cambão, Imbuzeiro, Pereiro, Mulungu, Braúna, Aroeira e Angico. Essas são as árvores da Caatinga cujos troncos viram poesia nas mãos desses escultores da Ilha do Ferro. Mais do que escultures ou poetas da madeira, esses homens são verdadeiros inventores de mitos. São esculturas e móveis de madeira de forma orgânica e de uma simplicidade bastante complexa, manifestações do inconsciente, objetos que induzem a ideia do fantástico e se colocam no limite entre realidade e ficção. Na Ilha do Ferro a escultura em madeira é um manifesto da cultura e do imaginário coletivo de um povoado ribeirinho e sertanejo.

 

(Mestre Aberaldo em seu refúgio criativo.)

(Mestre Aberaldo em seu refúgio criativo.)

 

De um galho seco, de um pedaço retorcido de madeira aparentemente amorfo, de troncos queimados ou daquilo que sobra na terra depois de cortes de trator, surgem criaturas que povoam o imaginário do artesão-criador e ao serem apresentadas a outras pessoas os significados contidos nessas peças se expandem e tudo pode vir à tona. A partir de uma leitura pautada em algo semelhante à livre associação, toda interpretação é possível. Eu, particularmente, já imaginei tantas coisas impossíveis ao ver essas peças, algumas me desafiaram a ponto de dificilmente serem descritas por palavras.

 

O início da tradição de esculpir madeira na ilha do Ferro aponta para o ofício tradicional, e atualmente em extinção, da construção de canoas de tolda. Os atuais artesãos são descendentes dos antigos marceneiros navais do São Francisco. A canoa de tolda, um tipo de embarcação tradicional com duas velas e que possui um abrigo para o transporte de cargas (a tolda), é um dos símbolos do Velho Chico que ainda resiste, atualmente restam apenas 3 exemplares e uma delas, a sergipana Luzitânia, continua a navegar na região do Baixo São Francisco e foi tombada em 2010 como Patrimônio Cultural Brasileiro pelo IPHAN.

 

Um dos principais nomes associados à arte de dar vida aos troncos retorcidos da Caatinga é o de Fernando Rodrigues, ou, como era conhecido, Seu Fernando da Ilha do Ferro. Ele faleceu em 2009, mas deixou inúmeros seguidores do seu ofício. Dizem que ele começou a esculpir na madeira para a feitura de tamancos, que eram utilizados no período das chuvas quando a lama tomava conta das ruas do povoado. A ele é atribuída a invenção da peça mais icônica e famosa feita na Ilha, os bancos cujas pernas são raízes. Objetos que se colocam no limite entre objeto funcional e escultural, são ao mesmo tempo: móveis que são esculturas, esculturas que são móveis ou mobiliários-esculturas.

 

Associados a essas esculturas de sentar estão os personagens do Mestre Aberaldo. Pelas suas mãos, há mais de trinta anos, pedaços de madeira se metamorfoseiam em animais, em pessoas ou em seres híbridos, pessoas-bichos, pessoas-galhos, galhos com cabeças. É tudo muito orgânico, poético e místico. Juntos esses dois homens são os grandes protagonistas e foram os iniciadores da arte de ressignificar a natureza e as formas existentes no mundo através de galhos e troncos de madeira encontradas na Caatinga e também dentro do próprio rio. Foram eles que construíram as bases para a escola de escultores da Ilha do Ferro, hoje em dia cerca de trinta artesãos se dedicam às esculturas em madeira e cada um desenvolve seu estilo e jeito próprio de esculpir.

 

O que é criado nesse povoado possui toda uma estética/poética que não se vê em outros lugares de Alagoas. Estrela solitária através do artesanato, a Ilha do Ferro se faz de fato uma ilha. Nessa história, Celso Brandão e Maria Amélia, juntamente com o esposo e artista plástico Dalton Costa, também são grandes incentivadores dos artesãos. Tiveram e continuam tendo enorme importância para difusão do artesanato da Ilha do Ferro para o mundo. São pessoas sempre mencionadas pelos artesãos, quando falam sobre suas trajetórias artísticas. Esses artistas que moram em Maceió, mantêm pequenas casinhas na ilha e vão frequentemente ao povoado. Além de Aberaldo, nessa viagem pelo Sertão de Alagoas, conheci os artesãos Valmir, Vandinho, Dedé e Petrônio, homens que individualmente dão forma ao fértil imaginário coletivo da ilha.

 

(Cabeças, Mestre Aberaldo.)

(Cabeças, Mestre Aberaldo.)

 

Os ateliês desses artesãos são micro-universos dentro da estrela solitária. Refúgios criativos, reúnem e revelam as particularidades desses homens. A personalidade do Mestre Aberaldo está toda impressa em seu ateliê que fica no quintal de sua casa, um dos quintais mais bonitos, aconchegantes e coloridos que já conheci. Nesse espaço, repleto de móveis, plantas e toda a espécie de miudezas, o artesão coleciona os fragmentos de capítulos de sua história e as memórias de suas andanças pelo Sertão. Um dos objetos me chama bastante a atenção, são 3 painéis com pequenos cacos de cerâmica dispostos um ao lado do outro – o mestre revela que aquilo são restos de louças que acha no rio provenientes de pratos, xícaras e travessas de cerâmica que quebraram ao serem lavadas pelas mulheres do povoado, ou seja, alguns pedaços são centenários, e ao ouvir isso fico impressionada pela sensibilidade do artista em recolher e dispor as memórias das louças de outrora que revelam um costume ribeirinho. Dispostos nas paredes ainda estão fotografias, máscaras, recortes de jornais e uma reprodução de uma pintura de paisagem; frutas de madeira, bandeirinhas e cabaças coloridas ficam penduradas no teto; pedaços variados de madeira, tintas e pincéis sob estantes e mesas; há ainda uma infinitude de objetos, alguns bastante curiosos outros mais comuns. Tenho para mim que seu ateliê é uma versão sertaneja de um gabinete de curiosidades.

 

(Homem-galho, Mestre Aberaldo.)

(Homem-galho, Mestre Aberaldo.)

 

Com exceção dos pássaros, os personagens que cria são seres estranhos, estatuetas que são uma mistura de anatomia humana e ex-voto, cabeça de homem e corpo de galho. Rostos geminados, costas que carregam corcundas, saliências fálicas, volumes esquisitos. Esculturas que estampam rostos sempre muito bem delineados, com boca e olhos minuciosamente esculpidos e pintados, as peças quase sempre recebem detalhes em cores vibrantes. Os ex-votos são um dos símbolos mais fortes associados à manifestação da cultura popular e tem bastante representatividade no Nordeste do Brasil, objetos que são oferecidos por um fiel a seu santo de devoção como forma de agradecer por uma graça concebida ou para pagar uma promessa. As peças feitas por Aberaldo seriam um gesto de agradecimento à natureza que o circunda, a grande fonte de inspiração para sua arte e também de onde extrai sua matéria-prima? Seriam essas peças oferendas à Ilha do Ferro, lugar que permite que ele viva exclusivamente da arte, daquilo que gosta de fazer?

 

(Mestre Valmir na Boca do Vento.)

(Mestre Valmir na Boca do Vento.)

 

Já Valmir é um dos principais discípulos do Mestre Fernando. Casado com uma das filhas do lendário escultor, o convívio favoreceu as trocas de saberes entre esses dois homens. Pescador ainda em atividade e escultor há cerca de vinte anos, Valmir conta que começou ajudando e observando o sogro até o dia que foi desafiado pelo mesmo a fazer uma cadeira e se saiu muito bem. Foi aí que se descobriu artista. Inspirado nos bancos inventados por Seu Fernando, Valmir continua a criar móveis-esculturas que impressionam por tanta beleza, algumas possuem braços, pernas ou detalhes de bichos. Além dessas peças o artesão esculpe árvores, flores, pássaros e outros seres reais e surreais. Geralmente a madeira permanece crua, sem adição de cores, só às vezes recebem pequenos detalhes para destacar olhos e bocas. Valmir mora na casa em que morava e trabalhava Seu Fernando, de frente para o Velho Chico, lá o dia corre vagarosamente e o lugar que tem a fama de ser o quintal mais bem ventilado da Ilha, chamado de Boca do Vento. Lá também encontramos Vandinho, que também é artesão e genro de Seu Fernando. Valmir nos mostra um pequeno depósito, ou quarto de memórias, onde a família guarda a sete chaves algumas relíquias do mestre Fernando, esculturas e objetos comuns que ajudam a decodificar o universo daquele homem.

 

(Detalhe da fachada do Cabeça Feita.)

(Detalhe da fachada do Cabeça Feita.)

 

 

Mas é Dedé da Ilha do Ferro, rapaz novo e extrovertido, que me conta mais detalhes sobre a história do povoado, é também um dos mais engajados para a criação de uma cooperativa para reunir os escultores de madeira da Ilha, para juntos conseguirem alcançar mais visibilidade e ter uma organização que permita que sempre tenham peças prontas para os turistas que se aventurarem pelo povoado. Ateliê Cabeça Feita, uma casinha de taipa a alguns metros de sua residência, é o seu estúdio de criação. O Cabeça Feita é preenchido por bancos de raízes, pássaros, pequenas cabecinhas coloridas de homens louros, morenos, coleções de cabeças de homens com diferentes tipos de bigodes, homens-galhos em posições que lembram uma coreografia marcada por saltos, com uma perna fincada no chão e a outra para cima juntamente com as mãos. Com exceção dos bancos, todas as demais peças são coloridas e as cores primárias são utilizadas com mais frequência, e, em menos, o verde, o preto e o branco. Assim como outros artesãos da ilha, Dedé teve seus primeiros contatos com a madeira ao ajudar Seu Fernando, colhendo troncos e fazendo pequenos trabalhos braçais, como serrar e lixar a madeira bruta. Foi apenas recentemente, depois que Seu Fernando morreu, que Dedé assumiu a profissão de escultor.

 

(Mestre Petrônio, Yang e a paisagem do Sítio Estrelo.)

(Mestre Petrônio, Yang e a paisagem do Sítio Estrelo.)

 

 

Resolvi encerrar essa primeira parte da narrativa sobre os homens artesãos da Ilha do Ferro apresentando Petrônio, que considero o grande prosador da Ilha do Ferro e que me deu grandes ensinamentos sobre o sertão. Saindo do centro de Pão de Açúcar, logo após o Riacho Grande, avista-se o Sítio Estrelo, um lugar que dá vontade de passar o dia sentado no alpendre da casa, ouvindo as histórias do artesão. Ao lado da porteira, um enorme ser de madeira é o guardião do lugar e segura uma placa convidando os passantes a visitarem o sítio. Ao longo do caminho entre a porteira e a casa, dispostas em ambos os lados das cercas, o visitante é guiado por grandes esculturas assustadoras, seres que parecem terem sido expulsos de pesadelos, dentes afiados, olhos arregalados, compõem uma galeria a céu aberto, um convite curioso para adentrar ao sítio e conhecer Petrônio.

 

(As criaturas de Petrônio. )

(As criaturas de Petrônio.)

 

Ouvir o mestre é aprender sobre as árvores e outras questões sobre a Caatinga, saio de lá carregando presentes, algumas mudas de árvores nativas desse bioma sertanejo e ameaçadas de extinção. É bonito de ver o cuidado que ele tem com a terra. Através dessas mudas Petrônio recuperou uma extensa área em sua propriedade, que foi devastada pelo antigo dono. Seu lema: “a natureza morta de volta à vida”. Petrônio estampa essa frase em cadeiras e objetos e na entrada do Sítio Estrelo também há uma placa que traz essas inscrições talhadas na madeira. Começou sua carreira fazendo ex-votos que vendia para Seu Fernando, mas se enveredou à feitura de bancos e cadeiras de forma orgânica, mas o destaque de seu trabalho são os seres exóticos e bizarros. Curupira, minotauro, tem até um Bob Esponja assombrado. Figuras gigantes e retorcidas, geralmente madeira mortas e queimadas, que são resgatadas por Petrônio, seja na mata ou no rio, pescador artesanal vai até o fundo procurar matéria-prima. O trabalho desse mestre é talvez o mais rústico da Ilha do Ferro onde a interferência na madeira tende a ser mínima, afinal é a natureza que evoca a metamorfose, a forma preexiste na imaginação de Petrônio, que apenas ajusta os detalhes para que os outros possam enxergar o que sua imaginação fértil vê.

 

 

Seu filho Yang também é artesão de talento e representa a nova geração da escola de escultores de madeira da Ilha do Ferro. Apesar de ainda ser um menino, já apresenta maturidade artística e, curiosamente, suas peças têm uma personalidade diversa das do pai. São bonecos, a quem chama de jogadores, tejus (grandes lagartos do sertão), pássaros e pequenas cabeças de homens. Seu trabalho dialoga esteticamente e formalmente com o trabalho de Aberaldo e de Dedé, seja no uso da cor, seja nos tipos de personagens esculpidos. Os seres de Petrônio, por sua vez, são únicos. Criaturas que são relatos esculpidos dos pesadelos protagonizados apenas por ele e materializar esses assombros é uma maneira de expurgá-los de dentro de seu inconsciente. A partir do momento em que o artesão passa a conviver com esses seres, dispondo-os ao redor de sua casa, de assombrações passam a protetores, blindando o Sítio Estrelo do mau-olhado e do desconhecido. Além de ressignificar o ciclo de vida e morte, Petrônio é um artista que ressignifica o pesadelo e o medo através da criação dos seres mais ferozes e bestiais da Ilha do Ferro.

 

(Fotos por Michel Rios.)

 

A editoria Dedo de Prosa traz histórias brasileiras inspiradoras, destacando as pessoas e seus ofícios. A seção Pelas Mãos de Alagoas, uma cartografia da arte cotidiana do estado, é feita por Luísa Estanislau.

 

Comentários

  1. Maira Almeida disse:

    Mais uma vez está de parabéns!! Fantástica a reportagem! 👏👏👏👏

  2. Bruna Morais de Medeiros disse:


    parabéns mil vezes pelo texto e pela sua sensibilidade!

    1. Obrigada, Bruna! O lugar é inspirador!

  3. Fernando Barbosa disse:

    Lindo o texto, de muita sensibilidade.

    1. A Ilha do Ferro faz isso com a gente!

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