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Mulheres da Família: Vó Tereza

 

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(O “Mulheres da Família” é um projeto-afeto que surge da minha vontade de contar histórias, há tempos que eu me pego com uma grande dúvida: como são as histórias das mulheres que vieram antes de mim? Resolvi então resgatar essas memórias e através desse pano, costurar em formas de palavras a vida das minhas ancestrais. Tecendo essas histórias, que a princípio pareciam tão e só minhas, notei que as linhas que entrelaçam as vidas são muito parecidas e que na verdade eu estava por contar histórias brasileiras, de nossas mulheres, que abriram caminho para estarmos aqui.)

 

A primeira protagonista dos meus contos-histórias é a minha vó Tereza, Maria Terezinha como diz sua certidão.

 

As histórias sobre essa minha avó que eu não conheci, me ajudam a desenhar uma mulher linda, na minha não-memória. É possível ter saudades de quem nunca se conheceu?

 

Vó Tereza foi uma mulher nascida em Araraquara, São Paulo, e que viveu quase a vida toda em São Paulo, casou cedo com meu avô Hércio e teve quatro filhos, dentre eles a minha mãe Regina. Essa foto que escolhi para apresentá-la é a do dia de seu casamento, uma das fotos mais bonitas que tenho dela.

 

Só a conheço por fotos e pelos dizeres carinhosos e saudosos de pessoas que com ela viveram, e sempre escuto: “ah, Tereza… sua avó era cozinheira de mão cheia, menina!”

 

Vivo na casa em que ela viveu, então quando encontro algum vizinho que a conheceu, escuto sobre as comidas maravilhosas que ela fazia e dividia com os vizinhos. Ela era uma costureira de primeira também e é uma das minhas maiores motivações a fazer moda. Temos ainda aqui em casa a máquina que ela usava pra fazer vestidos. Minha mãe conta que sempre ia na “barra da saia” dela pedir um vestido novo. Quantas vezes já ouvi sobre o vestido verde claro que minha mãe usava pra baixo e pra cima nas ruas do bairro. Além de costurar e cozinhar ela ainda era mãe, esposa e dona de casa, numa época em que maridos eram (e ainda são) autoritários e machistas, e por mais que Vó Tereza tivesse todos esses dons, ela não podia trabalhar. Vivia em casa.

 

Vovó morreu ainda nova, com seus quase 50 anos – eu acho -, mas vive acesa na minha memória de neta que só a conhece pelos bons dizeres de quem a conhecia. Maria Terezinha Negreiros: mãe, avó, cozinheira de mão cheia, costureira caprichosa, mas acima de tudo, mulher negra brasileira.

 

(Acho que esse conto-história ficou muito longo, talvez as próximas sejam mais curtas, mas vovó Tereza merecia.)

 

A editoria Dedo de Prosa traz histórias brasileiras inspiradoras, destacando as pessoas e seus ofícios. A seção Mulheres da Família é feita por Hanayrá Negreiros como uma cartografia pessoal, como um resgate da memória das mulheres de sua família.

 

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